Modernariato Lora Ronco designers do mobiliário moderno brasileiro - introdução
- Priscilla Roque
- 17 de nov. de 2022
- 3 min de leitura
Imagine-se em meados dos anos 40, no pós-guerra, uma época em que tudo era necessário para a reconstrução da sociedade e de seus mais básicos alicerces, devastados pela Segunda Guerra mundial durante 6 anos (1939-1945).
As necessidades eram inúmeras para garantir o "simples" direito a vida: onde morar, o que comer, o que vestir, cuidados básicos de saúde, com o que trabalhar, etc.
Nesse cenário de reconstrução, principalmente da Europa, o Brasil era uma óbvia alternativa, após as imigrações devido à Primeira Guerra, para que as pessoas buscassem a paz e recomeçassem suas vidas.

Eis então que alguns de nossos personagens, há pouco tempo reconhecidos e batizados como designers, vem para o Brasil e, somados aos Brasileiros "aqui nascidos", começam a desenhar, fabricar e vender móveis que irão ambientar as casas das famílias brasileiras por décadas. Nesta época, período extremamente rico em criatividade e inovação no Brasil e no mundo, os móveis obviamente eram pensados para serem funcionais, mas com estilo, beleza e leveza no seus desenhos, inicialmente com forte inspiração nos designs escandinavo, italiano e francês, e posteriormente com características mais brasileiras, tropicalizada, geralmente feitos em madeiras nobres e robustas (jacarandá, caviúna, jatobá, pau ferro, imbuia, etc), trabalhadas, torneadas e muito resistentes, com acabamentos impecáveis, pois se orgulhavam demais de suas criações modernas que rompiam com os estilos colonial e provençal. Traziam traços retos e limpos, andando de "mãos dadas" com a primeira geração de arquitetos que enfrentaram vários desafios para implantar uma nova concepção estética arquitetônica. "O admirável mundo novo!"

Hoje, 50/60 anos depois, o mobiliário moderno autêntico é cada vez mais raro, são verdadeiras obras de arte disputadas por colecionadores e clientes finais e que podem ser utilizadas para compor com a decoração contemporânea e, ainda robustos, continuam funcionais!
Vale ressaltar no contexto histórico o turbilhão de inovações e disrupções com o passado que acontecia nos anos 50 e 60 com a industrialização, reorganização da economia pós-guerra, boom dos eletrodomésticos, novos materiais, meios de comunicação, propaganda, entretenimento, verticalização das cidades, arquitetura tendo que trabalhar espaços internos menores... Imaginem os móveis pesados coloniais de madeira maciça escalando os edifícios....
Uma curiosidade. Escolhemos a palavra "modernariato" para compor o nome de nossa galeria porque seu significado, a partir de um relativo neologismo italiano, resume o contexto histórico e define as principais atividades que fazemos em torno do mobiliário moderno "true vintage". conforme abaixo:
1- ITA: "Ricerca, raccolta e commercio di oggetti artistici (ma anche di uso comune come mobili, suppellettili, ecc.) relativamente recenti, specialmente del periodo tra la fine della seconda guerra mondiale e gli anni ’50 e ‘60".
1- POR: "Pesquisa, coleção e comércio de objetos artísticos relativamente recentes (mas também de uso comum, como móveis, mobiliário, etc.), especialmente do período entre o final da Segunda Guerra Mundial e as décadas de 1950 e 1960."
2- ITA: "[der. di moderno, formato recentemente nel linguaggio commerciale e pubblicitario sul modello di antiquariato]. – Attività consistente nel ricercare e raccogliere, a scopo di commercio o di collezionismo, mobili, elettrodomestici, suppellettili, accessorî personali, ecc., prodotti industrialmente per lo più nel periodo compreso tra il secondo dopoguerra e gli anni ’60, e generalmente ritenuti significativi in quanto testimonianze dell’evoluzione del design; in senso concr., l’insieme degli oggetti raccolti e catalogati nell’ambito di tale attività: mostra del m.; raccolta di m.; un collezionista, un mercante, un esperto di modernariato."
2- POR: "[der. de moderno, recentemente formado em linguagem comercial e publicitária no modelo de antiguidades]. – Atividade que consiste em pesquisar e colecionar, para fins comerciais ou de coleção, móveis, eletrodomésticos, acessórios pessoais, etc., produzidos industrialmente principalmente no período entre o segundo pós-guerra e a década de 1960, e geralmente considerados significativos como evidência da evolução do design; em sentido concreto, o conjunto de objetos recolhidos e catalogados no âmbito desta atividade: exposição; coleção; um colecionador, um comerciante, um especialista em arte moderna."

Em uma série de artigos, a partir deste primeiro que resume o contexto do mobiliário moderno brasileiro na história, iremos publicar para cada designer uma visão da linha do tempo de suas vidas, carreiras, principais empresas, obras e publicações dedicadas, com o objetivo de divulgar conhecimentos gerais e suficientes para começar a aprender sobre esses verdadeiros mestres da madeira, suas características estéticas e as "bandeiras" que cada um defendia. Iremos resumir com modelos esquemáticos as trajetórias de Joaquim Tenreiro, Lina Bo Bardi, José Zanini Caldas, Giuseppe Scapinelli, Carlo Hauner, Martin Eisler, Abraham Palatnik, Geraldo de Barros, Sérgio Rodrigues, Jean Gillon, Jorge Zalszupin, Percival Lafer e Michel Arnoult.
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